A força do povo: sementes de uma nova humanidade!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 476 - Edição de Domingo – 14/06/2015

A força do povo: sementes de uma nova humanidade!

Hoje, somos chamados a semear pequenas sementes de uma nova humanidade.
Enquanto a redução da maioridade penal tem provocado nos meios jurídicos e intelectuais a mesma indignação que o PL 4330 teve no mundo do trabalho, a juventude, os movimentos sociais e aqueles que acreditam no dinamismo de uma cidadania ativa, à qual eles devem estar a serviço, se mobilizam na busca de novos caminhos e “novas formas de compromissos societários e políticos”.
“Reduzir a maioridade penal é violar as obrigações do Brasil na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança”, é o que assinalam nove organizações internacionais que atuam na defesa de direitos humanos em todo o mundo. Elas pedem ao Estado brasileiro que se abstenha de adotar a Proposta e Emenda Constitucional, em tramitação na Câmara dos Deputados, que visa reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. Na declaração, as organizações destacam que a medida “viola as obrigações do Brasil nos termos da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e seria um meio ineficaz de resolver delitos cometidos por adolescentes” (Adital).
A Arquidiocese de Porto Velho e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente convidam a sociedade, de modo especial, autoridades, parlamentares federais, estaduais e municipais; intelectuais, artistas, juventude e movimentos sociais para participarem da Audiência Pública sobre a Proposta de Emenda à Constituição 171/1993 e a Redução da Maioridade Penal, no dia 19 de junho de 2015 às 8h30, no Salão Paroquial da Catedral.
O mês de Junho continua proporcionando motivações e meios para que nossa identidade cristã se fortaleça e dê testemunho de fé. “O nosso coração está em Deus”, respondemos à invocação “Corações ao Alto”, durante a celebração do Sagrado Coração de Jesus, na última sexta-feira. “Do coração aberto de Jesus saiu sangue e água” (Jo 19,34) e desse gesto supremo do amor de Deus nasceu a Igreja.
“Deus nunca se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida” (MV 25), portanto, abramos nosso coração, endurecido e dividido, para o perdão e a misericórdia.
O perdão é expressão de amor. Quem não crê no amor, não abre espaço para o perdão, porque simplesmente não crê no perdão. Quem não ama não perdoa e tampouco é perdoado quem não se deixa amar. O problema não está em Deus, pois Ele continua amando a todos. O problema está em nós, pois se não cremos em seu amor, nunca nos sentiremos amados (Pe. A. Palaoro, sj).
Do coração da Trindade, do íntimo mais profundo do mistério de Deus, brota e flui incessantemente a grande torrente da misericórdia. Sempre que alguém tiver necessidade poderá aceder a ela, porque a misericórdia de Deus não tem fim (MV 25).
A Semana Nacional do Migrante, cuja abertura acontece hoje em todas as paróquias de nossa Arquidiocese, tem como tema: “Sociedade e Migração” e o lema “Não ao Preconceito! Por direitos e participação” (14-21/06).
Para o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados (18/01), o papa Francisco escreveu uma Mensagem que nos ajuda na reflexão dessa Semana: “Igreja sem fronteiras, mãe de todos” é o tema, inspirado na passagem do Evangelho “Eu era peregrino e me acolhestes” (Mt 25,35-36): A exemplo de Cristo, “evangelizador por excelência” (EG 209), somos chamados a cuidar das pessoas mais frágeis e reconhecer o seu rosto de sofrimento, sobretudo, nas vítimas das novas formas de pobreza e escravidão.
A Igreja, peregrina sobre a terra e mãe de todos, tem por missão amar Jesus Cristo nos mais pobres e abandonados; entre eles, os migrantes e os refugiados, que procuram deixar para trás duras condições de vida e perigos de toda a espécie. Assim, desde o início, a Igreja é mãe de coração aberto ao mundo inteiro, sem fronteiras. Numa época de tão vastas migrações, um grande número de pessoas deixa os locais de origem para empreender a arriscada viagem da esperança com uma bagagem cheia de desejos e medos, à procura de condições de vida mais humanas. Não raro, porém, estes movimentos migratórios suscitam desconfiança e hostilidade, inclusive nas comunidades eclesiais, mesmo antes de se conhecer as histórias de vida, de perseguição ou de miséria das pessoas envolvidas. Neste caso, as suspeitas e preconceitos estão em contraste com o mandamento bíblico de acolher, com respeito e solidariedade, o estrangeiro necessitado.
Por um lado, no sacrário da consciência, adverte-se o apelo a tocar a miséria humana e pôr em prática o mandamento do amor que Jesus nos deixou, quando Se identificou com o estrangeiro, com quem sofre, com todas as vítimas inocentes da violência e exploração. Mas, por outro, devido à fraqueza da nossa natureza, “sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor” (EG 270). Somente a coragem da fé, da esperança e da caridade permite reduzir as distâncias que nos separam dos dramas humanos.
As migrações interpelam a todos, não só por causa da magnitude do fenômeno, mas também “pelas problemáticas sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas que levantam, pelos desafios dramáticos que colocam à comunidade nacional e internacional” (CV 62).
O papa conclui sua mensagem, reafirmando que “à globalização do fenômeno migratório é preciso responder com a globalização da caridade e da cooperação, a fim de se humanizar as condições dos migrantes”. Insiste que “é preciso intensificar os esforços para criar as condições aptas a garantirem uma progressiva diminuição das razões que impelem populações inteiras a deixar a sua terra natal devido a guerras e carestias, sucedendo muitas vezes que uma é causa da outra”.
De forma permanente, as irmãs Carlistas, que tem por missão e carisma, acolher os migrantes, estão agora em Rio Branco. No dia 1º de junho, dia de João Batista Scalabrini, o apóstolo dos migrantes, a Congregação realizou a cerimônia de abertura da missão, que tem a intenção de contribuir com o acolhimento aos imigrantes que chegam ao Brasil por meio da fronteira no estado do Acre, próximo à tríplice fronteira Brasil-Peru-Bolívia.
Lembro-me da forte atuação das irmãs Carlistas nas comunidades de Boca do Acre e Extrema/Nova Califórnia. Atuantes também na Arquidiocese de Porto Velho e Ji-Paraná. Missionarias que ajudam a “semear pequenas sementes de uma nova humanidade”.
Porto Velho e cidades de Rondônia foram construídas com a ajuda de famílias migrantes provenientes de diversos Estados brasileiros. Muitas dessas famílias fazem parte da Rede de Comunidades Eclesiais de Base.
A centralidade do Evangelho de hoje é o Reino de Deus, que possui uma força extraordinária, porém diferente das forças e mecanismos de pressão atuantes em nossa sociedade (Mc 4,26-34). Em meio aos conflitos, crises e resistências, o importante é ir semeando (VP). O reino de Deus é algo muito humilde e modesto nas suas origens. Algo que pode passar tão despercebido como a pequena semente, mas que está chamada a crescer e frutificar de forma inexplicável.
O Profeta Ezequiel fala dos sinais de esperança: Deus plantará um pequeno galho no alto monte e ele se tornará um cedro majestoso (Ez 17,22-24). A vida vai abrindo caminho, mudando a sorte dos que penam sob qualquer forma de opressão, pois Deus é reconhecido por seus atos libertadores.
Paulo Apóstolo nos encoraja: o apelo de Jesus é para que as pessoas de boa vontade se unam a Cristo, para sentirem a força que o Reino possui. A união com Jesus, passando de fora para dentro do Reino, traz consequências que marcam para sempre a conduta cristã (2Cor 5,6-10).
Somos chamados a semear sementes de uma nova humanidade. A Igreja cresce como a semente que é lançada a terra. Na terra, a pequena semente passa por transformações, lança raízes que avançam em meio a terra, ao barro, ao lixo, mas, é isto mesmo que a transforma num arbusto cheio de vida. Ela trabalha sozinha. Não pode ser importunada. A raiz tem que trabalhar continuamente. Ela não pode truncada. Da raiz mãe, saem novas raízes. Assim é com a Igreja: a raiz-mãe é a paróquia. As pequenas raízes são as CEBs que surgem. É a Igreja da base (Marins).

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