VILHENA DISCUTE EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO

Um sonho, um desejo, uma nova EFA a caminho!
“A educação do campo,
 Do povo agricultor,
Precisa de uma enxada
 de um lápis, de um trator”...

No dia 22 de setembro de 2013, estiveram reunidos agricultores de Vilhena e Chupinguaia com o propósito de discutir a Educação do Campo no Cone Sul, aprofundando conhecimentos sobre a pedagogia da alternância e seus instrumentos pedagógicos, à partir da vivência de uma das fundadoras da EFA Vale, Sr. Aurora, educadora e também diretora dessa EFA por um longo período. Para contribuir, estiveram presentes estudantes formados em EFA, sendo Jhonatas da EFA Vale,  Sabrina e Liliana da EFA Pe. Ezequiel Ramin.

Fato é que historicamente o nosso país tem negado atenção a educação do/no campo, sendo essa apenas uma cópia “mal feita” da educação urbana, que prepara massa de trabalho para o mercado do capital, e desrespeita a realidade do campo e suas especificidades. Além dos currículos de curso não contemplarem as necessidades específicas do campo, vivenciamos um processo de fechamento das escolas rurais, sob argumentos incabíveis com base em supostas leis e custos.

Diante do descaso do estado no que se refere a uma educação voltada a realidade e necessidade do campo, os agricultores buscam nas escolas EFAs, e na pedagogia da alternância uma alternativa. Todas essas escolas surgem da demanda desse tipo de ensino e da organização e cooperação da comunidade para satisfazê-la, e as EFAs têm oferecido resposta a altura para os locais onde foram implantadas.

Com a experiência que Aurora expõe ao grupo, do histórico e implantação da EFA Vale, esclarece aspectos organizacionais, desde as mobilizações e disseminação da ideia, e também aspectos burocráticos desde a criação da mantenedora da escola, até a formação de parcerias, mecanismos legais a serem seguidos, aprovação pelo Conselho Estadual de Educação etc.

Sobre a Pedagogia da Alternância, Aurora contribui na compreensão dos métodos utilizados, dos objetivos a serem alcançados e no diferencial que é permitido tendo em vista que busca-se uma formação integral com interação do educando aos espaços de formação escolar e vivência familiar e comunitária, que permite refletir criticamente com base científica a realidade posta, e intervir de modo a contribuir e fortalecer as comunidades e organizações locais.

Os instrumentos pedagógicos são expostos, muitos exemplificados com os materiais e trabalhos feitos nas escolas. É apresentado o caderno da alternância, o Projeto Profissional do Jovem, sem esquecer o caderno da realidade, os serões, Plano de Estudo (PE), visitas de estudo, visitas as famílias, mestres de estágio. Cada instrumento é apresentado e discutido, visto que eles sustentam a pedagogia da alternância.

É importante resaltar que a EFA Vale enfrentou um processo de implantação dificultoso como da maioria das EFAs, e hoje devido aos esforços de pais e colaboradores vêm se mantendo, e tem formados 110 técnicos em Agropecuária. É destacado ainda que a sustentação de uma EFA se dá pela manutenção de seu sentido e da pedagogia da alternância, e isso à partir de pais e educandos também com características afins com a escola e dispostos a sustentá-la, mesmo diante das dificuldades financeiras, não raras.

Em sequência os educandos formados em EFA em locais e períodos distintos puderam expor sua vivência de EFA, um pouco da história de cada um e da rotina que seguiam na escola. Dúvidas foram surgindo e sendo esclarecidas no decorrer das apresentações.

Como educandos de EFA, também há que se resaltar a necessidade da manutenção do sentido da EFA, que independe de grandes estruturas, mas muito mais do querer uma educação adequada para o jovem do campo, que lhe permita uma formação integral. As vezes preocupados com estruturas materiais fica esquecido o objetivo e o sentido de ser EFA, e o diferencial vai se perdendo ao ponto que os instrumentos pedagógicos são suprimidos em nome da necessidade imediata e da urgência nas finanças.

Enquanto educandos nem sempre encontra-se fartura ou mega estruturas numa Escola Família Agrícola, mas ganha-se uma grande família, a família de jovens camponeses unidos num sentimento de pertença e de identidade camponesa.

Quando falamos da permanência do jovem no campo, dados indicam que 65% dos educandos permanecem no campo após se formarem, mas uma coisa é certa todos tem uma identidade clara, e muitos independente se no campo, na cidade, ou junto aos movimentos sociais, trabalham, pensam e agem em favor do campesinato.

Não posso ser impessoal, por que tenho que falar de sentimento, e em particular carrego uma paixão pelas escolas EFAs, e um desejo profundo de que outros tenham a oportunidade de estudar e viver o que eu vive. Nunca será igual, mas pode ser ainda melhor! E para tudo isso precisamos que as EFAs que estão sendo pensadas e planejadas sejam verdadeiramente escolas do campo, com uma educação do campo. E mãos a massa, pois o trabalho é grande,mas o sonho, ah o sonho! Ele é maior ainda e move todo o trabalho e dedicação dos construtores dessas escolas.

Disseram que na bliblia tem uma passagem que fala que “o povo padece por falta de conhecimento”. E Che Guevara nos lembra “Temos nossas mentes e nossas mãos, cheias da semente da aurora e estamos dispostos a semeá-la e a defendê-la para que dê frutos”.

O nível de debate é de pessoas que sabem o querem e que estão buscando os meios para transformar o sonho em realidade, que vão semear esse sonho e defendê-lo, e certamente colherão os frutos.

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